terça-feira, 15 de janeiro de 2013



Adivinhe quem é o pobre, barraqueiro e “ignorante” do BBB13

Valo-me das considerações tidas sobre a Escola Culturológica Europeia para fundamentar este texto. Ela é o meio termo entre críticos (Escola de Frankfurt) e defensores da mídia (Escola Funcionalista).
Os teóricos da Europeia defendem que a mídia não é exatamente tão pacífica e digna de uma perfeita “construção social”, quanto defendem os funcionalistas; assim como também não é um produto da indústria cultural, destinado totalmente à alienação e manipulação das pessoas, tal como Adorno e os frankfurtianos apontavam.
Essa Escola de Comunicação defende que por mais radical e pessimista que alguém seja em relação à mídia, é necessário conhecê-la para assim levantar seus argumentos que atestam a veracidade de sua crítica. Daí então, tomei o BBB13 como material de análise.
Ao assistir o programa de ontem (9) já tive o meu questionamento: Este é o espaço que o negro tem no reality show global?
É importante saber: no programa o negro é representado pela recepcionista Aline Mattos, 31 anos, nascida em São Miguel (RJ). Está aí a personagem a ser analisada.
Enquanto participavam de uma prova que garantia a imunidade, Aline teve duas discussões, sendo elas com Kléber Bambam e Eliéser.
As desavenças, da qual destaco a fala de Aline para Bambam “R$ 80 mil não vale eu mostrar minha ‘perereca’. Quem fala o que quer, ouve o que não quer”, já deram a pista de que foi feita uma minuciosa escolha da Globo para colocar Aline no programa. Bambam não se intimidou com as palavras de Aline, deu troco à provocação, chamando-a de “ignorante” e que “só fala m…” .
Ao que pode-se ver, a garota é do tipo que não leva desaforo pra casa. Mas não necessita escutar algo que lhe desagrada, ela mesma é capaz de entrar em uma discussão voluntariamente, como mostrou na noite de ontem. E já deixou avisado, ai de quem “pisar em seus calos”.
É intrigante ver como na primeira noite em que está confinada, a jovem já consegue se envolver em duas confusões. Até porque, é o início do programa, os ânimos ainda (ou deveriam) estar em clima de festa.
Mas não para por aí. Em uma reportagem no Multishow, Aline fala da sua origem humilde, cita que já trabalhou como faxineira, mas que é uma pessoa bagunceira. Ela fala também que “não gosta de pessoas inteligentes”. O motivo por ter essa repulsa, segundo ela, é porque a própria não se acha inteligente, fica nervosa quando está diante de pessoas que falam “difícil” e que aprendeu recentemente que o “mim se usa no final da frase”.
Aline também fala que em uma determinada ocasião fez um escândalo na casa do seu ex-namorado. Como resultado, a família do rapaz teve que chamar a polícia para ela.
Resumo: a imagem que a Globo me passa do negro é o “barraqueiro”, incapaz de uma boa colocação profissional, analfabeto (no caso funcional).
Com essa imagem me questiono: Esse é o negro brasileiro? Não temos negros em colocações inversas a essas características apresentadas?
E aos demais participantes, os brancos? Há advogada, empresário, bailarina de flamenco, artista plástico… Pra não ser omissa, há entre eles, um vendedor, Nasser, de Porto Alegre, ainda com 24 anos.
Dá pena ver a forma como as estratégias visando apenas obter a audiência faz a emissora tentar fortalecer as diferenças raciais que já temos, e que lutamos para serem reduzidas, e quem sabe (um dia) eliminadas.
Com essas artimanhas, não me assustarei se assim que Aline protagonizar alguma polêmica, a mesma seja associada com frases “Tinha que ser negro mesmo”. Isso destacará ainda mais discurso preconceituoso que muitos usam para responsabilizar os negros pelos atos negativos que ocorrem.
Não tenho nenhum preconceito ou bloqueio contra a participante Aline. Apenas vejo que assim como há espaço para uma advogada branca, inteligente, também deveria ser mostrado que o negro tem a mesma capacidade de instrução, colocação profissional e educação.
É preciso que essas barreiras entre o bom mocinho ser o branco e o vilão ser o negro sejam quebradas. Para isso acontecer, é necessário que os veículos de comunicação se proponham a mostrar o povo tal como ele é, respeitando suas diversidades, dando igual espaço a todas as raças, classes, rompendo assim o estereótipo negativo que o negro tem, e ela própria sustenta.
Enquanto a minoria (brancos da elite) tiver maior e melhor representação nos espaços midiáticos, o negro continuará a ser o símbolo da incapacidade e da inferioridade.
Por: Van Martins
http://ujs.org.br/portal/?p=11744

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